A ocorrência de uma enfermidade psicossomática crônica só surge se ocorrem diversos fatores patógenos.
Tanto
na hipertensão quanto na enfermidade dos "homens de empresa", atua sem
dúvida um desenvolvimento neurótico crônico. Em ambas as afecções, a
moléstia se evidencia quando o fator representado pelo desgaste
psicológico é acelerado de maneira decisiva e reforçado por um gênero de
vida patológico, psicodinamicamente determinado. Ambas vão aparecendo
de modo cada vez mais precoce e mostram uma tendência a provocar a morte
de indivíduos por elas afetados quando ainda relativamente jovens.
Se
o ritmo acelerado do "homem de empresa" supõe uma sobrecarga para o
coração e as artérias coronárias, no hipertenso o deslocamento da
agressividade para si mesmo afeta todo o sistema vascular.
Seria
importante serem adotadas a tempo oportuno medidas profiláticas contra o
avanço da doença, mas nas duas enfermidades os sistemas de alerta são
em principio completamente ignorados e/ou são minimizados. O que padece
da "personalidade coronariana" reprime estes sintomas, que dizer, nem
sequer os sente, já que não está disposto a mudar seu esquema de vida, e
assim os avisos premonitórios se fundem na corrente de um ritmo de vida
cada vez mais rápido. O hipertenso se dá conta deles, mas lhes retira a
importância, por razões conscientes e inconscientes, já que ceder a
esses sintomas lhe parece incompatível com o seu sentimento de dever,
além da pressão inconsciente que lhe autodireciona a sua agressão.
A
possível ocorrência de um infarto do miocárdio nesses pacientes vem
determinar um crise extremamente desesperadora, pois todas as defesas
nas quais sempre se refugiam entram em falência repentina.
A
sua entrada no CTI marca um momento decisivo da atuação do psicólogo,
desde que a elaboração desta crise será determinante na evolução futura
desse indivíduo. Uma má evolução poderá levar ou a uma mudança
hipodimensionada do autoconceito, com fantasias de invalidez,
incapacidade, medo e fuga, ou à manutenção do esquema anterior ao
infarto, com risco evidente de recidivas. O atendimento ao enfartado na UTI objetiva:
- Alívio da angústia inicial através do trabalho sobre as fantasias mórbidas. O estado de expectativa e busca de respostas podem agravar virtualmente o estado somático do paciente, pois a sua elaboração de fantasias e a tensão emocional levam-no, em sua dinâmica total, a um "déficit" funcional, caracterizado pelos quadros reativos, stress, e respostas somáticas como o aumento da pressão arterial, anorexia, diminuição do limiar de resistência à dor, etc.
- Abordagem psicoterápica de possíveis síndromes psicológicas (exemplo: depressão)
- Colocação do paciente frente ao seu estado real, limitações e possibilidades.
- Orientação e apoio nas fases em que o paciente atravessará até a sua alta da UTI. Esse tipo de orientação visa colocá-lo como participante de seu processo de tratamento e a minimizar o impacto da dependência e impotência que ele experimenta.
Por
outro lado, é importante que, já no hospital, se inicie o trabalho de
ressocialização e reintegração do indivíduo, observando suas limitações
físicas a curto, médio e longo prazo.
Um atendimento Psicoterápico profundo é fundamental logo após à saída do paciente do
Hospital, antes que se restabeleçam as antigas formas padronizadas de
agir, dando vazão a novo ataque muitas vezes fatal da doença. Esta é a
hora importante para o estabelecimento do processo Psicoterápico, pois o
paciente está abalado em seus esquemas distorcidos e mais suscetível a mudar seu enquadre de vida.
O
trabalho multiprofissional integrado nos parece ser o ideal no
tratamento dos pacientes enfartados, posto que a atenção globalizada ao
indivíduo, além de não dicotomizadora, é integradora e possibilita o
amplo levantamento de todos os condicionantes, passados e presentes,
daqueles enfermos em particular, indispensáveis para o estabelecimento
de um esquema referencial futuro. Este esquema objetivará uma
reformulação das pautas anteriores daquele indivíduo, e precisará
incluir o manejo das razões inconscientes que o levaram a um ritmo de
vida no qual o coração funcionou como órgão de choque.
Um
paciente bem informado, orientado, cônscio de seus limites e
potencialidade e capaz de rever, sem distorções, o seu processo
psicodinâmico é o melhor recurso preventivo que possuímos no sentido de
evitar uma nova crise ou o agravamento do estado crônico em que ele
vive.Fonte:http://www.psique.med.br
Psic Simone Mello Suruagy
Cuide-se!
Bronye
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