segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Fatores psicológicos e o coração


A ocorrência de uma enfermidade psicossomática crônica só surge se ocorrem diversos fatores patógenos.
Tanto na hipertensão quanto na enfermidade dos "homens de empresa", atua sem dúvida um desenvolvimento neurótico crônico. Em ambas as afecções, a moléstia se evidencia quando o fator representado pelo desgaste psicológico é acelerado de maneira decisiva e reforçado por um gênero de vida patológico, psicodinamicamente determinado. Ambas vão aparecendo de modo cada vez mais precoce e mostram uma tendência a provocar a morte de indivíduos por elas afetados quando ainda relativamente jovens.
Se o ritmo acelerado do "homem de empresa" supõe uma sobrecarga para o coração e as artérias coronárias, no hipertenso o deslocamento da agressividade para si mesmo afeta todo o sistema vascular.
Seria importante serem adotadas a tempo oportuno medidas profiláticas contra o avanço da doença, mas nas duas enfermidades os sistemas de alerta são em principio completamente ignorados e/ou são minimizados. O que padece da "personalidade coronariana" reprime estes sintomas, que dizer, nem sequer os sente, já que não está disposto a mudar seu esquema de vida, e assim os avisos premonitórios se fundem na corrente de um ritmo de vida cada vez mais rápido. O hipertenso se dá conta deles, mas lhes retira a importância, por razões conscientes e inconscientes, já que ceder a esses sintomas lhe parece incompatível com o seu sentimento de dever, além da pressão inconsciente que lhe autodireciona a sua agressão.
A possível ocorrência de um infarto do miocárdio nesses pacientes vem determinar um crise extremamente desesperadora, pois todas as defesas nas quais sempre se refugiam entram em falência repentina.
A sua entrada no CTI marca um momento decisivo da atuação do psicólogo, desde que a elaboração desta crise será determinante na evolução futura desse indivíduo. Uma má evolução poderá levar ou a uma mudança hipodimensionada do autoconceito, com fantasias de invalidez, incapacidade, medo e fuga, ou à manutenção do esquema anterior ao infarto, com risco evidente de recidivas. O atendimento ao enfartado na UTI objetiva:
  • Alívio da angústia inicial através do trabalho sobre as fantasias mórbidas. O estado de expectativa e busca de respostas podem agravar virtualmente o estado somático do paciente, pois a sua elaboração de fantasias e a tensão emocional levam-no, em sua dinâmica total, a um "déficit" funcional, caracterizado pelos quadros reativos, stress, e respostas somáticas como o aumento da pressão arterial, anorexia, diminuição do limiar de resistência à dor, etc.
  • Abordagem psicoterápica de possíveis síndromes psicológicas (exemplo: depressão)
  • Colocação do paciente frente ao seu estado real, limitações e possibilidades.
  • Orientação e apoio nas fases em que o paciente atravessará até a sua alta da UTI. Esse tipo de orientação visa colocá-lo como participante de seu processo de tratamento e a minimizar o impacto da dependência e impotência que ele experimenta.
Por outro lado, é importante que, já no hospital, se inicie o trabalho de ressocialização e reintegração do indivíduo, observando suas limitações físicas a curto, médio e longo prazo.
Um atendimento Psicoterápico profundo é fundamental logo após à saída do paciente do Hospital, antes que se restabeleçam as antigas formas padronizadas de agir, dando vazão a novo ataque muitas vezes fatal da doença. Esta é a hora importante para o estabelecimento do processo Psicoterápico, pois o paciente está abalado em seus esquemas distorcidos e mais suscetível a mudar seu enquadre de vida.
O trabalho multiprofissional integrado nos parece ser o ideal no tratamento dos pacientes enfartados, posto que a atenção globalizada ao indivíduo, além de não dicotomizadora, é integradora e possibilita o amplo levantamento de todos os condicionantes, passados e presentes, daqueles enfermos em particular, indispensáveis para o estabelecimento de um esquema referencial futuro. Este esquema objetivará uma reformulação das pautas anteriores daquele indivíduo, e precisará incluir o manejo das razões inconscientes que o levaram a um ritmo de vida no qual o coração funcionou como órgão de choque.
Um paciente bem informado, orientado, cônscio de seus limites e potencialidade e capaz de rever, sem distorções, o seu processo psicodinâmico é o melhor recurso preventivo que possuímos no sentido de evitar uma nova crise ou o agravamento do estado crônico em que ele vive.

Fonte:http://www.psique.med.br

Psic Simone Mello Suruagy 


Cuide-se!
Bronye

Nenhum comentário: