domingo, 11 de março de 2012

Vacina da coqueluche para pais e filhos

É como se fosse uma bomba-relógio programada para explodir a cada meia década. Assim se comporta a coqueluche, uma doença respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis e que tem predileção pelos bebês. "A cada quatro ou cinco anos o número de casos dispara. Estamos vivendo agora esse momento do ciclo epidemiológico", elucida a infectologista pediátrica Melissa Palmieri, diretora regional da Associação Brasileira de Imunizações.

Para proteger os pequenos contra essa ameaça, o usual é aplicar cinco doses da vacina que blinda o organismo infantil contra o micro-organismo — são três doses iniciais e outras duas depois para reforçar o sistema imune. Mas seu efeito defensivo cai pela metade dez anos após a última injeção. Ou seja, é mais pólvora para fomentar a incidência explosiva do problema, que pode ser transmitido de pai para filho.

Felizmente, para deixar as defesas do corpo em dia, basta adicionar à cartela de vacinação mais um encontro com a seringa — dessa vez, no entanto, a cada intervalo de dez anos. A sugestão desse repeteco, trazida ao Brasil pelo laboratório farmacêutico Sanofi Pasteur, é essencial, já que essa infecção não discrimina idade. Alagoas, Bahia e São Paulo, por exemplo, são estados que mostram já há algum tempo uma tendência crescente de pessoas infectadas em todas as faixas etárias.

Em busca da erradicação

Há quem pense que a contaminação com a Bordetella na adolescência ou anos mais tarde não é algo tão sério. Afinal, a maioria dos jovens ou adultos apresenta sintomas que podem ser facilmente confundidos com os de um resfriado comum, como febre, secreção nasal e tosse. Pior: muitas vezes, a coqueluche nem avisa que se instalou. "É que todos os que já foram vacinados na infância têm rastros da imunidade, que impede que a doença se manifeste de uma forma tão violenta", esclarece o infectologista Aroldo Prohmann, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, Santa Catarina.

No entanto, familiares e amigos portadores da bactéria, sem saber, representam um grande risco para os bebês que ainda não seguiram, pelo menos, aquelas três primeiras etapas da vacinação. Mais de 80% dos casos de coqueluche envolvem os menores de 1 ano de idade, e, desse total, a estimativa de óbito é de quase 5%. Com a expressividade desses números, o lançamento da vacina chega em tempo para alavancar de uma vez uma estratégia imunológica chamada de cocoon.

Internacionalmente bem-sucedida, seu nome já entrega o objetivo: cocoon em inglês significa casulo. Em outras palavras, sua finalidade é proteger. Todos ao redor da criança devem procurar a imunização, inclusive, se possível, as babás. Confira na ilustração ao lado os principais transmissores da doença.

Quanto mais novo o pequeno, mais hostis serão as complicações resultantes da presença da intrusa. "Crises intensas podem comprometer o pulmão e até o sistema neurológico", alerta o infectologista Alfredo Elias Gilio, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

O poder devastador que a infecção tem sobre a criançada de até 5 anos se deve ao fato de as defesas ainda estarem imaturas. São necessários alguns anos até que o sistema imunológico se forme completamente. Esse fator, em conjunto com as vias aéreas de menor calibre, transforma a criança no hospedeiro mais frágil. E, cá entre nós, mesmo depois de adotar todas as medidas preventivas, 6% das crianças ainda acabam sendo contaminadas por alguém que não faz parte do círculo familiar ou de amigos. Então, se seu filho apresentar alguns dos sintomas do quadro à esquerda, observe de perto a evolução do problema e avise o pediatra.

A coqueluche se caracteriza por três fases bem delineadas. "Na primeira, há muito catarro, febre e tosse por aproximadamente duas semanas", descreve o infectologista Daniel Wagner de Castro Lima, consultor da Sociedade Paulista de Infectologia. Na segunda fase, a febre some, enquanto a tentativa de se livrar do muco se torna mais vigorosa, gerando dificuldades na hora de inspirar. E, ao forçar o ar para dentro, o organismo responde com crises de tosse e vômitos. "Durante esses acessos, a pressão do pescoço e da cabeça aumenta bastante e isso pode causar hemorragias oculares e no sistema nervoso", explica Aroldo Prohmann. O número de episódios como esse, às vezes, chega a 30 em um único dia, principalmente à noite, deixando a pele e a mucosa com um tom arroxeado pela falta de fôlego. Esse suplício dura semanas. Já na última etapa, a tosse fica mais amena, mas, em contrapartida, surgem outras infecções respiratórias, como pneumonia, que, mais graves ainda, levam de seis semanas a três meses para desaparecer — isto é, com sorte.

Em caso de suspeita, a visita ao hospital precisa ser feita antes de apelar para qualquer medicação. Isso porque os remédios alteram os resultados dos testes. O exame que confirma a doença leva 15 dias para ficar pronto e deve ser feito, de preferência, duas semanas após as primeiras crises de tosse. Se o diagnóstico for confirmado, o especialista irá acompanhar a internação — provavelmente com isolamento na UTI — e prescrever o antibiótico correto.

"A vacinação é a melhor estratégia para a prevenção e controle da coqueluche", aconselha Castro Lima. O combate à doença está seguindo os passos da batalha contra a poliomielite, que, após intensivas campanhas de vacinação, está sendo, finalmente, erradicada ao redor do mundo. Com uma simples vacina a mais na cartela, em alguns anos estaremos livres de mais uma epidemia que tanto assombra recém- nascidos, crianças, jovens e adultos.

O que acontece no corpo da criança

A Bordetella pertussis faz o maior estrago quando passa a viver no organismo infantil. Entenda melhor os problemas que ela causa ao passear por onde não deveria:

1. Quando a doença dá as caras
A bactéria é transmitida através de gotículas infectadas provenientes de quem está doente. Isso pode ocorrer via espirro, tosse ou até uma conversa mais próxima. A boa notícia é que não é preciso se preocupar com objetos pessoais, já que a vilã não sobrevive por muito tempo fora do corpo humano.

2. Hora da multiplicação
Ela entra pelas vias respiratórias e se instala no nariz e na faringe. Assim que se estabelece, começa a migrar e colonizar outras áreas, como a traqueia e o pulmão.

3. Respiração carregada
Ao longo do caminho, o micro-organismo produz e libera uma substância tóxica que paralisa os cílios das células responsáveis por expulsar o muco do corpo. A secreção começa a se acumular e aparece aquela famosa sensação de chiado no peito. O pior dos cenários é o aparecimento de uma pneumonia.

4. Troca de gases interrompida
Quando essa toxina atinge os brônquios, ativa um processo inflamatório na região. Aí, os tubos que levam e trazem o ar dos pulmões incham e o oxigênio fica sem espaço para circular.

5. Cérebro faminto
Mas não é só o pulmão que sofre com isso. Quando os brônquios entopem, a massa cinzenta acaba sendo privada do gás indispensável para a nossa sobrevivência. O resultado? Sequelas motoras e até mentais.

Os sintomas mais comuns

- Tosse por períodos prolongados;
- Espasmos;
- Guinchos respiratórios;
- Vômitos;
- Coloração azulada da pele devido à falta de oxigênio;
- Suor;
- Febre;
- Convulsões.

Radiografia do imunizante

A vacina é líquida e produzida com apenas fragmentos da Bordetella pertussis, o que a torna mais segura. Está disponível na rede particular por aproximadamente 100 reais. A dose também reforça a proteção contra difteria, tétano e poliomielite. Geralmente é prescrita por infectologistas, pediatras e clínicos gerais. Sua eficácia é de mais de 95% e pode ser realizada com outras vacinas sem nenhum risco.

Proteção 360°

Apesar de ocupar o primeiro lugar no ranking mundial, a coqueluche não é a única complicação que pode ser evitada quando se adota a estratégia cocoon. O casulo de proteção também afasta outros micro-organismos. As doenças provocadas pelas bactérias pneumococo e meningococo, por exemplo — aquelas que causam pneumonia e meningite —, também têm menos probabilidade de vingar se os adultos da casa se vacinam. "Além disso, imunizar os pais é um modo eficaz de proteger os mais novos do influenza, o vírus da gripe", recomenda a infectologista pediátrica Melissa Palmieri.



Fonte:Revista Saúde- por Caroline Randmer


Cuide-se!

Bronye


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