sábado, 16 de janeiro de 2010

Saiba usar os antibióticos

Usá-los a torto e a direito é agir como um livre-atirador sem pontaria. Em vez de matar a bactéria, você só faz fortalecê-la.
Surge, então, um monstro difícil de vencer
por ADRIANA TOLEDO (Revista Saúde)

Uma notícia recém-chegada da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, retrata bem o tamanho da ameaça representada pelo consumo indiscriminado de antibióticos: em uma pesquisa de campo com amostras de solo, os cientistas encontraram superbactérias. E elas são súper por dois motivos: toleram altas doses desses remédios e, ousadas, chegam até mesmo a devorar suas moléculas, como se as drogas fossem um banquete. Esnobam anos e anos de avanços da indústria farmacêutica.

Não sabemos se elas, em si, causam doenças em seres humanos, mas podem, sim, transferir seu mecanismo de resistência para outros microorganismos, via DNA, explica a SAÚDE! George Church, autor do estudo. Nessa espécie de transferência de tecnologia de um micróbio para outro, surgem germes causadores de infecções bem adaptados às substâncias que deveriam combatê-los.

O assunto é tão grave que, aqui, a Sociedade Brasileira de Infectologia lançou a campanha Antibiótico necessita de prescrição médica. Como o próprio mote sugere, o objetivo é alertar sobre os perigos de engolir o medicamento sem necessidade. A orientação, aliás, merece atenção redobrada nesta época do ano. Nos dias frios, as pessoas tendem a permanecer mais tempo em ambientes fechados, o que favorece as infecções, justifica o imunologista Fabio Castro, da Universidade de São Paulo.

Os desavisados cometem toda sorte de erro: recorrem ao antibiótico que foi tiro e queda em outra ocasião; passam por uma consulta relâmpago no pronto- socorro e saem de lá com uma receita, digamos, pouco personalizada; tentam curar a doença com antiinflamatório, que não é páreo para infecções bacterianas. Os microorganismos que sobrevivem ao tratamento incorreto se fortalecem, resume a infectologista Thaís Guimarães, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Aí, o paciente passa a ter infecções mais agressivas, que podem até se espalhar pelo corpo. Veja, nos quadros à direita, como você pode, sem querer, entregar superpoderes de bandeja a uma bactéria.

Nunca é demais lembrar que antibióticos não matam vírus. É o caso dos causadores da gripe e de algumas sinusites, cujos sintomas são aliviados com analgésicos e antitérmicos, exemplifica Thaís Guimarães.

E as amigdalites, campeãs no uso abusivo de antibióticos, nem sempre são provocadas por bactérias. Em 70% dos episódios, os vírus são os vilões da garganta inflamada avisa o infectologista Eduardo Medeiros, da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp.

Só o especialista sabe diferenciar se o pivô da encrenca é um vírus ou uma bactéria, observando sintomas como aparência, febre e dor. Mais uma razão para evitar antiinflamatórios sem prescrição: "Eles aliviam a sensação dolorosa, o que dá uma falsa sensação de melhora nas infecções bacterianas. Daí a pessoa pode demorar mais para buscar orientação e receber o tratamento correto", explica Eduardo Medeiros. E o quadro se agrava.

Uma vez medicado com antibiótico, continue monitorando a febre. Se ela persiste por mais de 72 horas após a introdução da droga, isso pode sinalizar que ela não está surtindo efeito. Não perca tempo: procure seu médico. Ou você não está tomando o antibiótico certo ou a dose é insuficiente. É bem verdade que um profissional experiente é capaz de receitar a droga correta com base no olhar clínico, no relato dos sintomas, no histórico do paciente e no estado de saúde geral. Mas, por segurança, muitos tiram a prova dos nove recorrendo a exames como sorologia do sangue, teste de urina, análise do catarro e cultura. Todos eles detectam a bactéria por trás de uma infecção. Uma vez flagrada, é possível fazer ainda o antibiograma, que revela todos os antibióticos aos quais o micróbio em questão sucumbe.

Por fim, faça a sua parte
Verifique se você entendeu a receita e pergunte ao profissional sobre cuidados especiais durante a utilização da droga, aconselha Esper Kallas. Medidas simples assim evitam que seu corpo se transforme em um criadouro de monstrinhos resistentes, como os encontrados na pesquisa de Harvard.

Cuide-se!
Bronye

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